Nenhuma criança tem auto-estima.
- Patrícia Grilli
- 6 de set. de 2022
- 4 min de leitura
Eu fui uma criança que demorou muito tempo para entender que eu poderia ser amada dentro de casa e odiada na escola ao mesmo tempo.
Sem sombra de dúvida essa dicotomia causou na minha cabeça uma confusão - Será que eu era amada mesmo? Será que eu era legal ou só minha mãe achava isso? E por que será que o elogio da minha mãe parece que não valia muito?
Como você pode imaginar a minha autoestima era bem questionável... Afinal de contas, será mesmo que eu era legal em casa, ou minha mãe tinha que gostar de mim porque era minha mãe, sabe? E porque na escola ninguém gostava de mim se em casa e com meus primos eu era legal?
E isso nos trás para o aprendizado que quero compartilhar com vocês hoje: A CRIANÇA NÃO NASCE COM AUTOESTIMA - ela precisa ser ensinada.
Aliás, as crianças tem necessidades de amor, de afeto e de segurança que serão as bases para que ela possa crescer como um adulto que se sente amado, seguro e digno de receber elogios e amor de forma genuína.
Vou compartilhar com vocês algumas dessas necessidades para que você que convive com uma criança, e também para que você olhe o seu passado e veja se a sua "criança interior" foi suprida em suas necessidades ou não.
Tudo que vou falar é do livro "Sobrevivência Emocional da psicodramatista e terapeuta Rosa Cukier. No ano de 1988, (vulgo ano que eu nasci) o autor Bradshaw resumiu as necessidades infantis baseadas nas características emocionais naturais de toda criança que são :
· Valorização externa – a criança não nasce com autoestima e nem tem noção nenhuma do seu valor pessoal – os adultos precisam mostrar isso a ela – com palavras de incentivo, e de reconhecimento de suas habilidades e jeitos de ser. Se isso não ocorrer, essa criança cresce com um buraco emocional, e vive para tentar validar no mundo externo se de fato merece amor, e fica com esse senso de amor próprio defeituoso.
· Vulnerabilidade – nenhuma criança pode se defender sozinha, ela precisa de um adulto que a defenda, proteja e lhe ensine que ela está segura no mundo. A criança é dependente 100% e precisa sentir que essa dependência é boa e que ela pode confiar nesses pais. E nesse processo frustrar algumas necessidades inadequadas faz parte do processo de educar e demonstrar para essa criança que ela não sabe de tudo e que precisa sim, de ter um adulto para cuidar dela. Quem não teve isso, não teve esses limites e esse senso de dependência criados na infância, se torna um adulto que se sente sozinho, que acredita que não tem ninguém por ele, e que não pode errar, porque se errar – não está respeitando a liberdade que recebeu dos pais.
· Imperfeição e imaturidade – é até engraçado ter que lembrar que uma criança está em desenvolvimento, que não sabe fazer as coisas direito, afinal, está aprendendo a viver pela primeira vez. Ela é descoordenada, deixa cair coisas, suja tudo, faz barulho, machuca, chora e quer fazer xixi no meio da viagem. Quando esse adulto que está cuidando dessa criança aceita que ela seja falha sem se abalar emocionalmente, e sem exigir comportamento de adulto dela, ele a mostra eu está tudo bem aprender coisas novas e evoluir. Agora, se ela só foi criticada, se só recebeu broncas por tudo, até pelo que nem sabia ainda, sem dúvida se tornará uma adulta que sente que precisa ser PERFEITA e que sofre muito caso erre e que até julga quem erra como inadequado, do mesmo jeito que fora julgada
· Pensamento concreto e radical – a criança não tem a sutileza de conseguir distinguir as qualidades das pessoas e dos objetos. Ou é bom ou ruim, ou é legal ou chato, é tudo ou nada, agora ou nunca, etc. E isso aos poucos vai melhorando quando a criança desenvolve seu cérebro e assimila a habilidade da reversibilidade que é a capacidade de entender que as coisas vão e voltam e que tem um processo por trás de tudo. Os adultos que não entendem isso, acham a criança dramática, exagerada e dizem que ela não é flexível – exato, ela não é mesmo, não por ser complicada, mas porque seu cérebro não estava pronto ainda.
Com todos esses insights quero que você possa pensar que toda criança MERECE:
· Se sentir preciosa, importante, e ter suas necessidades básicas atendidas,
· Precisa de ajuda para aprender os próprios limites, e também precisa de guias para aprender a como resolver seus problemas,
· Permita que a criança se expresse, que fale sobre o que sente, sobre emoções, sem destruir a sua autoestima,
· Permita que a criança erre e aprenda,
· Seja sempre coerente com a criança, pois ela aprende com o exemplo,
· Mostre sua vulnerabilidade a ela e a ensine que ela também pode ser vulnerável, sem deixar de ser uma boa pessoa.
E o presente que eu quero te dar é: SE VOCÊ É ADULTO HOJE, E SENTE QUE NÃO TEVE SUAS NECESSIDADE BÁSICAS ATENDIDAS, AINDA ESTÁ EM TEMPO!
Na terapia o que fazemos é exatamente te ensinar como você mesmo pode suprir essas lacunas e te ensinar novos modelos relacionais.
Se permita! Se ame e se cuide!




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